A VERDADEIRA HISTÓRIA SOBRE MANTER O KITE ÀS 12

Autor: Giorgia Matteazzi

Se você se acostumar a manter o kite às 12, as chances são de que, um dia, seu kite vai estolar. Você estará preparado para reagir da maneira adequada?! Você sabe como evitar um gigantesco faceplant na areia?

Agora, você pode pensar: “Do que você está falando, Gio? Eu posso colocar o kite às 12 e tirar as mãos da barra e beber uma cerveja, fazer uma pirueta, cumprimentar meu melhor amigo, ler um jornal, e meu kite estará confortavelmente lá às 12 esperando por mim para dizer o que fazer."

E eu vou te dizer: “venha para El Médano, ou qualquer outro local com rajadas, com 10 nós de rajadas. Tente isso aqui e me diga como foi.”

Acostumar-se a manter o kite às 12 é perigoso. Nem sempre, é claro, mas você não deve se acostumar com isso.

Com certeza, se você estiver vindo de um local com vento bom e estável, quase não terá problemas. Mas, se você quer se tornar um kiter mais consciente que conhece a abordagem mais segura, continue lendo.

Muitas vezes esquecemos que o kitesurf é um esporte radical e começamos a dar as coisas como garantidas. Pensamos “oh não, isso não vai acontecer comigo” e então – o carma vem e dá um tapa na sua cara! Então, vamos falar sobre segurança e o que podemos melhorar para nos tornarmos kiters ainda mais fodas!

Se o vento estiver com rajadas e mantivermos o kite às 12, as chances são maiores de o kite cair na zona de potência. Se o kiter tiver sorte, ele vai cair no chão e ser arrastado por alguns metros. 

Se o kiter não tiver sorte, o vento aumentará novamente enquanto o kite estiver caindo na zona de potência e você será catapultado a favor do vento. Isso é perigoso para o kiter, mas também para todas as outras pessoas que estão na praia. 

Vejo uma média de duas pessoas por dia de vento experimentando isso em El Médano. Sem brincadeira. 

Até a IKO assumiu uma posição forte sobre a questão do kite nas 12 horas:

Vamos começar com o básico: O que é frontstall?

Um frontstall acontece quando o Ângulo de Ataque do kite se torna negativo (por exemplo, as linhas da frente perdem tensão ou quando as linhas de frente ficam mais curtas que as linhas de trás) e o kite cai para frente em direção ao kiter. É verdade que isso acontece principalmente em ventos fracos ou rajados, mas se você se acostumar a manter o kite às 12, quando chegar a hora de se testar em condições desafiadoras, poderá esquecer isso e acabará sofrendo um frontstall. Então, por que não evitá-lo completamente?

Para mim, a única razão para ter o kite às 12 é quando você movimenta seu kite dentro da janela de vento. Em geral, em toda nossa vida de kite, mal temos que manter o kite às 12 enquanto estamos na praia.

Vamos rever alguns cenários de “kitemare”!

Por causa deste artigo, vamos imaginar nosso amigo José. Ele é um entusiasta do kite e muito ansioso para velejar. Ele veleja sempre que pode. José é aquele amigo kiter que sempre sofre acidentes e nunca entendemos o porquê. 

Este é o José:

Hello Joe!

Cenário Kitemare #1: Trimar o kite às 12 

José se lembra de regular seu kite de vez em quando e, quando o faz, sempre regula às 12 horas. Ao trimar o kite, duas coisas ruins podem acontecer com José:

1) Seu kite entra em frontstall porque ele puxa o trim e ele pode ficar preso e, opa, ele cria um ângulo de ataque negativo. As linhas de frente ficam mais curtas e José marca em seu próprio gol - o kite entra em frontstall.

2) O kite de José tem um ângulo de ataque muito positivo e faz backstall. O kite entra em backstall quando há muito ângulo de ataque. As linhas de trás estão muito curtas em comparação com as linhas da frente e vice-versa. O kite começará a se mover para trás, perderá toda a força e cairá. 

O que José talvez tenha esquecido é que, mantendo o kite às 12, ele está tornando sua vida mais complicada. Quando o kite está alto às 12 e entra em front ou backstall, é um longo caminho para baixo. Enquanto estiver em frontstall, uma rajada pode entrar e empurrá-lo, pois o kite está no meio da zona de potência. Quando faz backstall, o kite pode pegar o vento e correr em direção à borda da janela de vento, puxando José para baixo do kite e também para o frontstall! Que confusão, José! E então todo mundo na praia vai dizer “oh, claro que tinha que ser o José…”

ai pobre José

O que José pode melhorar? Ele poderia tentar trimar o kite com um ângulo de 45 graus, então se ela fizer frontstall, poderia se mover rapidamente para encontrar a tensão nas linhas da frente. E, se fizer backstall, o kite já estará de um lado da janela de vento e estará próximo ao solo. Os danos em ambos os casos serão menos graves.

Faixa bônus: quando um kite faz backstall ou frontstall, nunca puxe a barra. Se ele pegar força novamente, puxando a barra, estaremos imediatamente criando força total! E quantas vezes já vimos José voando na praia?!?

Cenário de Kitemare #2: Andar contra o vento com o kite às 12

Nosso querido amigo, José, acabou de começar a velejar e ainda precisa fazer sua “caminhada da vergonha” para voltar contra o vento. José anda contra o vento dando as costas ao vento, andando para trás e mantendo o kite às 12 com uma mão na barra e outra na prancha. José, meu querido, andar para trás limita suas chances de ver para onde está indo. Pode haver obstáculos atrás de você, como pranchas na areia, e você pode cair 

Aeeeeee esse é o José novamente

O que José pode melhorar? Tente manter o kite a 45 graus. José então seria capaz de virar seu corpo na direção que ele quer ir. É ainda mais fácil controlar o kite assim! E, bônus, ele pode ver para onde está indo. 

A evolução de José para um kiter fodão

Cenário Kitemare #3: Ser levantado com o kite às 12

É a primeira experiência de José em vento forte e rajado. Ele nunca andou com um 7 metros, e hoje é o dia! José decola o kite, traz para 12 e, de repente, devido a rajadas de 10 nós, ele é levantado verticalmente no ar. Ele se sente completamente overpowered e fora de controle. O kite o puxa para cima e ele faz saltos involuntários. Você corre para agarrar a alça dele, senão ele voaria para longe.

Antes de tudo, ele deve se perguntar se está em um nível em que pode andar over e talvez usar um kite menor (ou uma cerveja).

O que ele pode melhorar? 

O que José não sabe é que mantendo o kite às 12 em rajadas de vento forte, ele tem menos capacidade de contrabalançar a tração do kite com seu peso. 

José poderia ter tentado manter o kite nas laterais (a 45 graus). Desta forma, ele pode usar seu peso de forma mais eficiente. E o mais importante, se ele soltar a barra, o kite cairá na areia e a queda será menor e menos poderosa do que se tivesse que cair das 12.

Cenário Kitemare #4: Ajustando qualquer coisa com o kite às 12

Ou com o kite voando em geral…

Enquanto José se abaixa para ajustar seus footstraps pilotando o kite às 12, ele está fazendo algo perigoso. Você pensa: “vamos lá José, é bem difícil ficar de olho no kite enquanto você tem que olhar para os pés, não?!” Além disso, José poderia estar empurrando a barra para baixo, encurtando as linhas de frente, e o kite poderia fazer um frontstall!

José empurrando as linhas centrais….

O que José pode melhorar? Ajustar seu trapézio, footstraps, capacete e água potável (ou qualquer outra coisa) é mais seguro de se fazer enquanto o kite está em terra. Às vezes, só por preguiça, pensamos “vai levar apenas um minuto” e sbadabammmm – carma. Imagine um piloto de F1 amarrando os cadarços enquanto dirige. Isso não faz sentido. 

Cenário Kitemare #5: Conversar com o kite às 12 

José acabou de fazer a sessão de sua vida, mas ainda não terminou. Ele sai da água, quer dividir a empolgação com os amigos e bebe um gole d'água. Ele não quer baixar o kite porque “só vai levar um minuto”. Como resultado, José fica com o kite às 12 por 10 minutos no meio de uma praia pequena e lotada.

Da próxima vez que você ver José fazendo isso, por favor, lembre-o de baixar o kite. É a opção mais segura, pois o kite estolar, mas também, quando ele fica plantado com o kite às 12 no meio da praia, fica um pouco no caminho de outros kiters entrando e saindo da água. Sejamos conscientes e respeitosos com o espaço compartilhado no local.